Boas Vindas

Caros e Caras Colegas:

Que bom receber a visita de vocês!!!
Aqui, neste espaço, pretendo relatar minhas experiências em sala de aula, bem como colocar informações úteis e interessantes, sempre que me for possível, acerca da nossa nobre profissão: Professor!
Espero que possam encontrar algo que seja do interesse de vocês e que possamos, juntos, trilhar este caminho de eterna aprendizagem!
Sintam-se à vontade para comentar minhas postagens!!!

Grata pela visita!!!

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Quando alunos especiais entram em uma sala de aula regular...

Era o meu quinto dia de aula. Não conhecia todos os alunos anotados no diário de classe. Então, a pedido da diretora da escola onde leciono, resolvi visitar os futuros discentes da minha turma.
Antes de iniciar minha viagem, a diretora me dá um aviso: "Você terá duas alunas especiais em sua sala de aula". Pergunto a modalidade da deficiência (se é que esta palavra ainda pode ser tida como politicamente correta), e recebo como resposta a palavra "surdez".
A única reação que consegui esboçar, diante do pânico dominador que a notícia me trouxe, foi perguntar à ela se estava brincando comigo. Eu não tinha feito, até então, nenhum curso de LIBRAS. Como conseguiria dar conta de uma demanda desta? Ela tentou me consolar, prometendo: "tão logo apareça um curso adequado, encaixo você nele".
Após as visitas, tive a sensação de estar entrando em uma novela digna da assinatura de Franz Kafka (desculpem-me por parodiar O Homem Nu, mas o impacto que esta história me causou foi muito real). Após passar um final de semana praticamente sem dormir, com tal situação na mente, recebo as alunas em sala de aula. Descobri que elas sabiam escrever e, na minha ignorância, achava que também sabiam ler. Tentei me utilizar de pessoas que conviviam com elas para servirem de intérprete e achei que tinha solucionado o problema, até o dia em que a mãe da professora de LIBRAS que lecionava para elas me fez uma visita em plena sala de aula. Para cumprimentá-las, optei pela linguagem universal do afeto: já que não sabia dar "boa-noite" em LIBRAS, abraçava e beijava-as toda vez que chegavam ou saíam da aula para voltar à suas casas.
Confesso que sempre procurei estar atenta aos problemas físicos e psíquicos de meus alunos. Sei que não há professor bom se o aluno estiver com problemas e se estes não forem resolvidos. Tanto é verdade que a primeira providência tomada por mim em sala de aula foi marcar exames de vista para aqueles que mostraram dificuldades nesta área. Estava até criando meu próprio material didático para adequá-lo às deficiências visuais dos estudantes, visto que o material ofertado pela Secretaria de Educação do município não estava com o tamanho de letra adequado à condição deles. E quando lecionamos para jovens e adultos, à noite, esta questão é de fundamental importância. Tanta preocupação, e elas não eram suficientes...
Marli começou a me explicar que o mundo dos surdos é diferente do nosso. Que eu não estava fornecendo material didático adequado a elas e que tentaria providenciar um intérprete para o meu caso, pois a
lei me garantia este direito. Minhas alunas eram "copistas" e, como eram surdas desde que nasceram, não sabiam ler lábios. Portanto, não me entendiam!
Esta conversa foi o momento preliminar para a minha descoberta, dias depois, quando a diretora acima citada veio me dar a notícia tão esperada: o Governo do Estado da Bahia, em parceria com os municípios, iria fornecer cursos na área de Educação Especial e os professores da rede regular que tivesse alunos nesta condição poderiam participar. Minha inscrição estava feita e a duração seria de 40 horas (ou seja, uma semana inteira!).
Entrei naquele curso com uma certeza: a deficiente era eu! Nossa turma foi dividida em dois tempos, sendo o primeiro para estudar LIBRAS e o segundo para estudar Metodologias de Aulas para Surdos. A coisa mais importante que aprendi foi a noção de solidão em que viviam minhas alunas na sala de aula, por não ter, lá, quem as compreendesse. A segunda, foi que surdez não é deficiência, mas sim um estilo de vida em que a pessoa, obrigatoriamente, é estrangeiro em seu próprio país. Tudo o que eu teria de fazer era adequar a minha metodologia no que se referia às alunas especiais. Adequar, utilizando metodologia de segunda língua! Isso, é claro, desde que eu aprendesse a língua delas.
Ah! Que alívio poder me comunicar com minhas alunas, saber que elas estavam me entendendo sem precisar me utilizar de intérprete para isso... Não dá para contar as lágrimas que este prazer me trouxe...
Hoje, agradeço a elas pelo que tenho sido forçada a aprender! Elas me mostraram que a vida é belíssima. Que sempre há um jeito de resolvermos um problema, por mais difícil que ele pareça. Ainda sofro, tendo de criar material para esta condição especialíssima que eu não conhecia na minha pouca experiência pedagógica. Entretanto, ao olhar para elas, sei que as vezes temos de construir o caminho por onde trilharemos e também que compensa fazer o esforço de utilizar o conhecimento que temos para criar pontes verbais e nos comunicarmos com nossos irmãos usuários de linguagens diferentes da nossa!

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