Boas Vindas

Caros e Caras Colegas:

Que bom receber a visita de vocês!!!
Aqui, neste espaço, pretendo relatar minhas experiências em sala de aula, bem como colocar informações úteis e interessantes, sempre que me for possível, acerca da nossa nobre profissão: Professor!
Espero que possam encontrar algo que seja do interesse de vocês e que possamos, juntos, trilhar este caminho de eterna aprendizagem!
Sintam-se à vontade para comentar minhas postagens!!!

Grata pela visita!!!

quinta-feira, 22 de julho de 2010

O que é viver sem saber ler?

Certa noite, chego nervosa à sala de aula. O motorista que me conduzia ao trabalho estava dirigindo alcoolizado e eu precisava tomar alguma providência. O carro que me transportava também levava parte dos alunos e eu não queria nem podia colocar a vida deles em risco. Penso que a educação já começa deste modo: o professor deve garantir a integridade física e mental de seus alunos, no espaço relacionado à sala de aula (e, as vezes fora dele! O Estatuto da Criança e do Adolescente está aí para cobrar isso). De repente, uma frase dita por um aluno fura os meus ouvidos:
- Professora! Você não sabe o que é viver sem saber ler.
Ainda tentando colocar ordem em minha cabeça, paro o que estou fazendo e tento ouvir aquela voz. Era Veríssimo, aluno aplicado, a me conduzir para tamanha reflexão. Ele continua seu discurso:
- Sabe, professora, eu já vi gente deixar de receber "os tempos de serviço" só porque não sabia pegar um elevador para chegar ao terceiro andar de um prédio.
Começo a perceber que algo de sério viria nesta conversa. Este aluno, sempre instigado em sala de aula, resolvia me fazer um relato do que tinha sido a vida dele até então:
- Olha, professora, é cada situação que a gente passa... Imagine o cidadão ir a uma repartição pública, fazer um documento. Ele fica lá, em pé, na porta da sala, esperando o funcionário chegar para abrir. Depois de algum tempo, geralmente longo, alguém chega e pergunta: "o que você deseja?" "Vim fazer um documento", daí a pessoa diz "a repartição está em greve". Sabe lá o tempo que a gente passou esperando? As vezes, professora, o papel tá lá, informando! Mas a gente não sabe ler... Então, perde tempo! Outra hora, a gente vai ao supermercado, pegar uma mercadoria embalada e fica sem saber qual embalagem tem o sabor que se procura. Uma vez eu fui comprar uma lata de leite para o meu patrão e acabei comprando uma lata de achocolatado. Daí ele me disse: "Eu queria que você comprasse leite. Por que me trouxe chocolate em pó?" Ah! Professora... É tão triste não saber ler...
- Comecei a perceber, então, a intensidade do abismo que havia naquela conversa. Como compreender Veríssimo? Eu aprendi a ler aos sete anos de idade. Desde criança, conheço o "mundo das letras, das palavras, dos textos". Como me utilizar de empatia e me colocar no lugar dele? Como imaginar a vida sem saber ler? Percebi, neste momento, que ninguém do meu conhecimento e nesta condição tinha me informado o que era ser analfabeto. Meus parentes e conhecidos analfabetos nunca tinham me feito relatos deste tipo. As pessoas não costumam falar das desvantagens que sofrem na vida ou talvez não ligue para elas. Provavelmente se acostumaram com a condição de não saber ler.
Fiquei "suspensa no ar" com esta conversa. Qual o nível de felicidade de alguém que passou a vida inteira sem conhecer as letras e as regras para juntá-las quando, de repente, tem acesso à escola e aprende a ler? Meu aluno está me ensinando sobre isso. Acho que agora posso tentar fazer a ponte entre estes dois lados: o do analfabetismo e o do letramento.
E acabo aprendendo que a Educação tem o poder de libertar as pessoas da escravidão. Escravidão de não saber ler, de não saber exercer seus direitos no mundo.
Meu aluno está me ensinando isso!

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