Certa noite, chego nervosa à sala de aula. O motorista que me conduzia ao trabalho estava dirigindo alcoolizado e eu precisava tomar alguma providência. O carro que me transportava também levava parte dos alunos e eu não queria nem podia colocar a vida deles em risco. Penso que a educação já começa deste modo: o professor deve garantir a integridade física e mental de seus alunos, no espaço relacionado à sala de aula (e, as vezes fora dele! O Estatuto da Criança e do Adolescente está aí para cobrar isso). De repente, uma frase dita por um aluno fura os meus ouvidos:
- Professora! Você não sabe o que é viver sem saber ler.
Ainda tentando colocar ordem em minha cabeça, paro o que estou fazendo e tento ouvir aquela voz. Era Veríssimo, aluno aplicado, a me conduzir para tamanha reflexão. Ele continua seu discurso:
- Sabe, professora, eu já vi gente deixar de receber "os tempos de serviço" só porque não sabia pegar um elevador para chegar ao terceiro andar de um prédio.
Começo a perceber que algo de sério viria nesta conversa. Este aluno, sempre instigado em sala de aula, resolvia me fazer um relato do que tinha sido a vida dele até então:
- Olha, professora, é cada situação que a gente passa... Imagine o cidadão ir a uma repartição pública, fazer um documento. Ele fica lá, em pé, na porta da sala, esperando o funcionário chegar para abrir. Depois de algum tempo, geralmente longo, alguém chega e pergunta: "o que você deseja?" "Vim fazer um documento", daí a pessoa diz "a repartição está em greve". Sabe lá o tempo que a gente passou esperando? As vezes, professora, o papel tá lá, informando! Mas a gente não sabe ler... Então, perde tempo! Outra hora, a gente vai ao supermercado, pegar uma mercadoria embalada e fica sem saber qual embalagem tem o sabor que se procura. Uma vez eu fui comprar uma lata de leite para o meu patrão e acabei comprando uma lata de achocolatado. Daí ele me disse: "Eu queria que você comprasse leite. Por que me trouxe chocolate em pó?" Ah! Professora... É tão triste não saber ler...
- Comecei a perceber, então, a intensidade do abismo que havia naquela conversa. Como compreender Veríssimo? Eu aprendi a ler aos sete anos de idade. Desde criança, conheço o "mundo das letras, das palavras, dos textos". Como me utilizar de empatia e me colocar no lugar dele? Como imaginar a vida sem saber ler? Percebi, neste momento, que ninguém do meu conhecimento e nesta condição tinha me informado o que era ser analfabeto. Meus parentes e conhecidos analfabetos nunca tinham me feito relatos deste tipo. As pessoas não costumam falar das desvantagens que sofrem na vida ou talvez não ligue para elas. Provavelmente se acostumaram com a condição de não saber ler.
Fiquei "suspensa no ar" com esta conversa. Qual o nível de felicidade de alguém que passou a vida inteira sem conhecer as letras e as regras para juntá-las quando, de repente, tem acesso à escola e aprende a ler? Meu aluno está me ensinando sobre isso. Acho que agora posso tentar fazer a ponte entre estes dois lados: o do analfabetismo e o do letramento.
E acabo aprendendo que a Educação tem o poder de libertar as pessoas da escravidão. Escravidão de não saber ler, de não saber exercer seus direitos no mundo.
Meu aluno está me ensinando isso!
Este blog destina-se às narrativas de experiências vividas por uma professora iniciante em sala de aula, bem como deixar uma palavra de apoio aos colegas de profissão em momentos de angústias como esse...
Boas Vindas
Caros e Caras Colegas:
Que bom receber a visita de vocês!!!
Aqui, neste espaço, pretendo relatar minhas experiências em sala de aula, bem como colocar informações úteis e interessantes, sempre que me for possível, acerca da nossa nobre profissão: Professor!
Espero que possam encontrar algo que seja do interesse de vocês e que possamos, juntos, trilhar este caminho de eterna aprendizagem!
Sintam-se à vontade para comentar minhas postagens!!!
Grata pela visita!!!
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