Ao sair da faculdade de Letras, acreditava que estava pronta, apenas, para dar aulas aos alunos das classes entre 6º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio. Magistério e Pedagogia, pensava, são os cursos ideais para quem vai trabalhar com crianças. A idéia de alfabetizar sempre me trazia a desagradável sensação de "um frio na espinha".
Então surgiu o concurso da prefeitura municipal... Pensei em não fazer. Não queria dar aulas para crianças, pois acho que elas precisam de pessoas que tenham profundo amor no coração e eu reconheço que ainda não cheguei neste nível de maturidade psíquica e moral. Ainda estou para descobrir minhas habilidades com crianças. Meu público preferido são os adolescentes e os adultos. É mais fácil negociar com essa faixa etária de aluno, imaginei.
Mas queria entrar na área da Educação; quem sabe eu poderia conseguir uma sala de aula do 6° ano em diante... Precisava perder o medo e encarar o desafio. Após passar no concurso e ser chamada para trabalhar, fico sabendo que, como eu queria, ia trabalhar com adultos. Mas, estes adultos estavam, em maioria, na fase de alfabetização. E agora? O que eu faço? Não tenho experiência com isso. Como vou me sair dessa???
Com a ajuda de uma grande amiga e colega de trabalho, Margarete, consigo organizar os primeiros planos de aula. Tarefas, materiais didáticos, livros especializados... Tudo o que ela tinha, passou-me como quem dá o corpo e a alma ao "náufrago desesperado". Mais do que isso! Margarete conseguiu acalmar meu juizo!
Inicio minhas aulas e descubro, junto a meus alunos, os fonemas, as letras, as sílabas... Começo a brincar com eles, utilizando os sons que cada letra tem em determinado contexto. Chegava a ficar rouca depois de uma aula. Mas valia a pena! Alcançava meu objetivo de despertar neles o gosto pela leitura. Então, percebi algo surpreendente: meus conhecimentos de Linguística eram úteis! Nunca poderia imaginar o quanto eram valorosos os estudos e pesquisas sobre o mundo dos fonemas para quem está alfabetizando! Só a vivência em sala de aula para me mostrar isso...
Minha visão sobre o curso de Letras Vernáculas mudou completamente! Até aquele momento, achava que era a licenciatura mais humilde que alguém poderia fazer. Agora, vejo a sua importância para trabalhar com regras tão complexas quanto às que estruturam uma linguagem. Aconselharia a todas as pessoas que querem trabalhar com alfabetização e com crianças a fazerem este curso ou a estudar este assunto. Ele se revela uma grande ferramenta para compreender as regras por trás da gramática de cada língua e, o mais importante, nos desarma dos preconceitos que criamos em relação ao nosso idioma.
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