Boas Vindas

Caros e Caras Colegas:

Que bom receber a visita de vocês!!!
Aqui, neste espaço, pretendo relatar minhas experiências em sala de aula, bem como colocar informações úteis e interessantes, sempre que me for possível, acerca da nossa nobre profissão: Professor!
Espero que possam encontrar algo que seja do interesse de vocês e que possamos, juntos, trilhar este caminho de eterna aprendizagem!
Sintam-se à vontade para comentar minhas postagens!!!

Grata pela visita!!!

terça-feira, 27 de julho de 2010

Para não dizer que não falei de livros...

Estava empolgada, falando da importância da Linguística para quem leciona numa sala de aula com alunos alfabetizandos. Não lembrei de um livro interessante que li e que me ajudou muito neste processo, do ponto de vista teórico. O título é Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa, de Maria Lúcia de Castro Gomes. Ela é professora e tem experiência em metodologia de língua estrangeira. Este livro dela fala da relação entre Linguística e Alfabetização, da Variação Linguística, sugestões de metodologias a serem aplicadas pelo professor que trabalha com linguagens e de outros assuntos pertinentes a qualquer profissional da área de Língua Portuguesa. A linguagem do livro é acessível e de fácil entendimento.
A única crítica que eu faço a ele é pelo fato de ser pequeno (cerca de 200 páginas). Deixa a gente com vontade de ler mais.
Quem tiver interesse em Linguística e estiver se preparando para entrar em sala de aula não pode perder esta leitura!

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Alfabetização e Linguística: uma relação íntima...

Ao sair da faculdade de Letras, acreditava que estava pronta, apenas, para dar aulas aos alunos das classes entre 6º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio. Magistério e Pedagogia, pensava, são os cursos ideais para quem vai trabalhar com crianças. A idéia de alfabetizar sempre me trazia a desagradável sensação de "um frio na espinha".
Então surgiu o concurso da prefeitura municipal... Pensei em não fazer. Não queria dar aulas para crianças, pois acho que elas precisam de pessoas que tenham profundo amor no coração e eu reconheço que ainda não cheguei neste nível de maturidade psíquica e moral. Ainda estou para descobrir minhas habilidades com crianças. Meu público preferido são os adolescentes e os adultos. É mais fácil negociar com essa faixa etária de aluno, imaginei.
Mas queria entrar na área da Educação; quem sabe eu poderia conseguir uma sala de aula do 6° ano em diante... Precisava perder o medo e encarar o desafio. Após passar no concurso e ser chamada para trabalhar, fico sabendo que, como eu queria, ia trabalhar com adultos. Mas, estes adultos estavam, em maioria, na fase de alfabetização. E agora? O que eu faço? Não tenho experiência com isso. Como vou me sair dessa???
Com a ajuda de uma grande amiga e colega de trabalho, Margarete, consigo organizar os primeiros planos de aula. Tarefas, materiais didáticos, livros especializados... Tudo o que ela tinha, passou-me como quem dá o corpo e a alma ao "náufrago desesperado". Mais do que isso! Margarete conseguiu acalmar meu juizo!
Inicio minhas aulas e descubro, junto a meus alunos, os fonemas, as letras, as sílabas... Começo a brincar com eles, utilizando os sons que cada letra tem em determinado contexto. Chegava a ficar rouca depois de uma aula. Mas valia a pena! Alcançava meu objetivo de despertar neles o gosto pela leitura. Então, percebi algo surpreendente: meus conhecimentos de Linguística eram úteis! Nunca poderia imaginar o quanto eram valorosos os estudos e pesquisas sobre o mundo dos fonemas para quem está alfabetizando! Só a vivência em sala de aula para me mostrar isso...
Minha visão sobre o curso de Letras Vernáculas mudou completamente! Até aquele momento, achava que era a licenciatura mais humilde que alguém poderia fazer. Agora, vejo a sua importância para trabalhar com regras tão complexas quanto às que estruturam uma linguagem. Aconselharia a todas as pessoas que querem trabalhar com alfabetização e com crianças a fazerem este curso ou a estudar este assunto. Ele se revela uma grande ferramenta para compreender as regras por trás da gramática de cada língua e, o mais importante, nos desarma dos preconceitos que criamos em relação ao nosso idioma.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Quando alunos especiais entram em uma sala de aula regular...

Era o meu quinto dia de aula. Não conhecia todos os alunos anotados no diário de classe. Então, a pedido da diretora da escola onde leciono, resolvi visitar os futuros discentes da minha turma.
Antes de iniciar minha viagem, a diretora me dá um aviso: "Você terá duas alunas especiais em sua sala de aula". Pergunto a modalidade da deficiência (se é que esta palavra ainda pode ser tida como politicamente correta), e recebo como resposta a palavra "surdez".
A única reação que consegui esboçar, diante do pânico dominador que a notícia me trouxe, foi perguntar à ela se estava brincando comigo. Eu não tinha feito, até então, nenhum curso de LIBRAS. Como conseguiria dar conta de uma demanda desta? Ela tentou me consolar, prometendo: "tão logo apareça um curso adequado, encaixo você nele".
Após as visitas, tive a sensação de estar entrando em uma novela digna da assinatura de Franz Kafka (desculpem-me por parodiar O Homem Nu, mas o impacto que esta história me causou foi muito real). Após passar um final de semana praticamente sem dormir, com tal situação na mente, recebo as alunas em sala de aula. Descobri que elas sabiam escrever e, na minha ignorância, achava que também sabiam ler. Tentei me utilizar de pessoas que conviviam com elas para servirem de intérprete e achei que tinha solucionado o problema, até o dia em que a mãe da professora de LIBRAS que lecionava para elas me fez uma visita em plena sala de aula. Para cumprimentá-las, optei pela linguagem universal do afeto: já que não sabia dar "boa-noite" em LIBRAS, abraçava e beijava-as toda vez que chegavam ou saíam da aula para voltar à suas casas.
Confesso que sempre procurei estar atenta aos problemas físicos e psíquicos de meus alunos. Sei que não há professor bom se o aluno estiver com problemas e se estes não forem resolvidos. Tanto é verdade que a primeira providência tomada por mim em sala de aula foi marcar exames de vista para aqueles que mostraram dificuldades nesta área. Estava até criando meu próprio material didático para adequá-lo às deficiências visuais dos estudantes, visto que o material ofertado pela Secretaria de Educação do município não estava com o tamanho de letra adequado à condição deles. E quando lecionamos para jovens e adultos, à noite, esta questão é de fundamental importância. Tanta preocupação, e elas não eram suficientes...
Marli começou a me explicar que o mundo dos surdos é diferente do nosso. Que eu não estava fornecendo material didático adequado a elas e que tentaria providenciar um intérprete para o meu caso, pois a
lei me garantia este direito. Minhas alunas eram "copistas" e, como eram surdas desde que nasceram, não sabiam ler lábios. Portanto, não me entendiam!
Esta conversa foi o momento preliminar para a minha descoberta, dias depois, quando a diretora acima citada veio me dar a notícia tão esperada: o Governo do Estado da Bahia, em parceria com os municípios, iria fornecer cursos na área de Educação Especial e os professores da rede regular que tivesse alunos nesta condição poderiam participar. Minha inscrição estava feita e a duração seria de 40 horas (ou seja, uma semana inteira!).
Entrei naquele curso com uma certeza: a deficiente era eu! Nossa turma foi dividida em dois tempos, sendo o primeiro para estudar LIBRAS e o segundo para estudar Metodologias de Aulas para Surdos. A coisa mais importante que aprendi foi a noção de solidão em que viviam minhas alunas na sala de aula, por não ter, lá, quem as compreendesse. A segunda, foi que surdez não é deficiência, mas sim um estilo de vida em que a pessoa, obrigatoriamente, é estrangeiro em seu próprio país. Tudo o que eu teria de fazer era adequar a minha metodologia no que se referia às alunas especiais. Adequar, utilizando metodologia de segunda língua! Isso, é claro, desde que eu aprendesse a língua delas.
Ah! Que alívio poder me comunicar com minhas alunas, saber que elas estavam me entendendo sem precisar me utilizar de intérprete para isso... Não dá para contar as lágrimas que este prazer me trouxe...
Hoje, agradeço a elas pelo que tenho sido forçada a aprender! Elas me mostraram que a vida é belíssima. Que sempre há um jeito de resolvermos um problema, por mais difícil que ele pareça. Ainda sofro, tendo de criar material para esta condição especialíssima que eu não conhecia na minha pouca experiência pedagógica. Entretanto, ao olhar para elas, sei que as vezes temos de construir o caminho por onde trilharemos e também que compensa fazer o esforço de utilizar o conhecimento que temos para criar pontes verbais e nos comunicarmos com nossos irmãos usuários de linguagens diferentes da nossa!

quinta-feira, 22 de julho de 2010

O que é viver sem saber ler?

Certa noite, chego nervosa à sala de aula. O motorista que me conduzia ao trabalho estava dirigindo alcoolizado e eu precisava tomar alguma providência. O carro que me transportava também levava parte dos alunos e eu não queria nem podia colocar a vida deles em risco. Penso que a educação já começa deste modo: o professor deve garantir a integridade física e mental de seus alunos, no espaço relacionado à sala de aula (e, as vezes fora dele! O Estatuto da Criança e do Adolescente está aí para cobrar isso). De repente, uma frase dita por um aluno fura os meus ouvidos:
- Professora! Você não sabe o que é viver sem saber ler.
Ainda tentando colocar ordem em minha cabeça, paro o que estou fazendo e tento ouvir aquela voz. Era Veríssimo, aluno aplicado, a me conduzir para tamanha reflexão. Ele continua seu discurso:
- Sabe, professora, eu já vi gente deixar de receber "os tempos de serviço" só porque não sabia pegar um elevador para chegar ao terceiro andar de um prédio.
Começo a perceber que algo de sério viria nesta conversa. Este aluno, sempre instigado em sala de aula, resolvia me fazer um relato do que tinha sido a vida dele até então:
- Olha, professora, é cada situação que a gente passa... Imagine o cidadão ir a uma repartição pública, fazer um documento. Ele fica lá, em pé, na porta da sala, esperando o funcionário chegar para abrir. Depois de algum tempo, geralmente longo, alguém chega e pergunta: "o que você deseja?" "Vim fazer um documento", daí a pessoa diz "a repartição está em greve". Sabe lá o tempo que a gente passou esperando? As vezes, professora, o papel tá lá, informando! Mas a gente não sabe ler... Então, perde tempo! Outra hora, a gente vai ao supermercado, pegar uma mercadoria embalada e fica sem saber qual embalagem tem o sabor que se procura. Uma vez eu fui comprar uma lata de leite para o meu patrão e acabei comprando uma lata de achocolatado. Daí ele me disse: "Eu queria que você comprasse leite. Por que me trouxe chocolate em pó?" Ah! Professora... É tão triste não saber ler...
- Comecei a perceber, então, a intensidade do abismo que havia naquela conversa. Como compreender Veríssimo? Eu aprendi a ler aos sete anos de idade. Desde criança, conheço o "mundo das letras, das palavras, dos textos". Como me utilizar de empatia e me colocar no lugar dele? Como imaginar a vida sem saber ler? Percebi, neste momento, que ninguém do meu conhecimento e nesta condição tinha me informado o que era ser analfabeto. Meus parentes e conhecidos analfabetos nunca tinham me feito relatos deste tipo. As pessoas não costumam falar das desvantagens que sofrem na vida ou talvez não ligue para elas. Provavelmente se acostumaram com a condição de não saber ler.
Fiquei "suspensa no ar" com esta conversa. Qual o nível de felicidade de alguém que passou a vida inteira sem conhecer as letras e as regras para juntá-las quando, de repente, tem acesso à escola e aprende a ler? Meu aluno está me ensinando sobre isso. Acho que agora posso tentar fazer a ponte entre estes dois lados: o do analfabetismo e o do letramento.
E acabo aprendendo que a Educação tem o poder de libertar as pessoas da escravidão. Escravidão de não saber ler, de não saber exercer seus direitos no mundo.
Meu aluno está me ensinando isso!

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Nascendo mais uma experiência...

Quando tinha nove anos de idade, pensava em trabalhar num banco. Alguém que estava do meu lado e era responsável pela minha educação disse-me que eu seria bem mais útil sendo professora (ainda que eu utilizasse minhas habilidades docentes para coisas não tão boas quanto a profissão exige). Resisti bravamente à idéia, mas o destino nos persegue onde quer que estejamos e eis-me, hoje, aqui, para relatar um pouco desta experiência que tem sido tão desesperadora quanto gratificante, ou talvez um verdeiro sacerdócio. Espero que estes relatos sejam úteis para quem os leia, pois acredito que o testemunho pode ser a melhor coisa que temos a oferecer quando o resto nos faltar. Espero que meus leitores encontrem, senão o que buscam, pelo menos uma idéia para seguir em frente! Bem Vindos (as) ao meu blog!!!